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A mostrar mensagens de julho, 2015

le vagabond

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ilustração de Camila do Rosário pour ne pas vivre seul je marche avec l'illusion d'un vagabond par ces îles imaginaires du monde que cette youkali pour ne pas vivre seul je marche à la recherche d'un amour qui me sourire à youkali pour ne pas vivre seul je marche avec l'illusion de ne pas vivre seul nuno malela 28.VII.2015

esboço

e eu fiquei ali     sentado a ver-te sair  enquanto os homens das mudanças entravam e saiam transportando as caixas e o mobiliário que indicaras vi tudo isso passar diante de mim imóvel     sem reacção     talvez incrédulo mas expectante como se fosse a própria vida a passar por mim sem que eu tivesse tempo de me agarrar a qualquer coisa     segurar um pedaço de memória que restasse e me garantisse a continuidade da nossa vivência foi apenas nesse momento que percebi que pouco ou nada na minha vida valeu a pena que a minha última tentativa fora inutilmente gasta sim     até momentos antes     eu acreditei genuinamente que me estava a ser dada uma última oportunidade de (re)fazer alguma coisa pela minha vida     antes que me viessem cobrar o tempo que vivi ou o tempo que gastei a não viver até ao momento de saíres     deixando-me para trás sentado naquela sala    agora vazia e sem dono    eu mantive a esperança que o nosso reencontro nos r

malmequer

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hoje fui ao fundo da minha gaveta pintura de Eduardo da Costa Fernandes Macedo de Oliveira deu-me para     obsessivamente organizar e limpar toda a desarrumação que frequentemente faço habitar dentro da minha gaveta encontrei     durante essa reorganização dentro de um envelope plastificado e bem arrumadinho o malmequer que um dia desenhaste numa folha de papel que arranquei com raiva e saudade no dia em que partiste     para que     guardado nessa redoma permanecesse intacta como algo teu continuei a minha arrumação dividindo por grupos toda aquela distinta papelada o grupo-do-que-quero-guardar o grupo-do-que-não-quero-guardar o grupo-do-que-ainda-não-sei-o-que-fazer-com-isto estes grupos foram virando montes e esses montes     em montes de subgrupos espalhados pela secretária     pelo chão     na cadeira da secretária     em cima da cama et cetere o que-é-para-guardar-aqui    o que-é-para-guardar-ali o que-é-para-guardar-acolá o que-vai

«Agora é tarde»

Hoje o ensaio acabou mais tarde do que o previsto; foi também bem mais violento do que esperávamos: trabalhar com aquele tipo divide a nossa alma, estilhaça-a em pequenos pedacinhos, como quando partimos, já com o lume nos olhos, o espelho que nos mostra o repugnante da nossa alma, o espelho onde somos cinzentos, sem mácula mas não completamente inocentes e alvos. O Rui, como tantos outros, é uma espécie de espelho que revela em nós o que queremos ocultar – por vezes até de nós próprios – e lança tão violentamente quanto os nossos defeitos os pedaços de vidro que compõem a nossa alma em becos, em buracos tão fundos, tão negros, tão difíceis de penetrar e de nos encontrar de novo com a nossa alma estilhaçada. Contrariamente à minha estranha rotina pós-ensaios: comer a salada do dia – estranho é insistir chamar de salada do dia uma salada que como nunca antes da meia-noite, não deveria antes nomeá-la salada da noite? – conversar com os colegas sobre as banalidades da atualidade,

Num pedaço de papel

Quem muito se ausente, um dia deixa de fazer falta. Sentado num café com gente com quem já não estava, no verdadeiro sentido da palavra, havia já algum tempo, reparei que em cima da mesa que escolhemos – nem sei bem o porquê da escolhermos aquela mesa, já que ainda tinha os vestígios dos clientes que a usaram antes de nós: chávenas de café, pacotes de açúcar gastos e amarrotados, colheres, pratos, as migalhas, et cetera – estava amarrotado junto a um copo, pousado naquele que agora era o meu lugar, ainda sujo e com marcas de batom carmim – não o lugar, mas o copo – um papel já amarrotado e escrito; correção: o que eu encontrei foi um guardanapo de papel escrevinhado, daqueles guardanapos que normalmente estão em cima das mesas de café e que servem para limparmos a boca, as mãos, a babá do bebê, et cetera , junto ao copo usado por outra pessoa que lhe deixara nas bordas marcas de batom carmim.  Até aqui nada de anormal nem de estranheza: alguém escrevinhara qualquer coisa sem

Vamos fazer uma festa?

             Olá… Dizem que é a forma mais correta – delicada, diria eu – de iniciar uma forma carta informal – com um destinatário incógnito, mas existente, garanto-vos. Gostaria de inventar algo novo… sei lá, ou de dizer um nome, o teu nome, mas tal seria demasiado invasivo. Mas sempre posso dizer olá amiga – já que é para um tu feminino. Sim, é isso:        Olá amiga, como tens passado? Há muito tempo que não nos olhamos – há diferença, embora não pareça ente ver, é uma ação, uma capacidade biológica, é frio, tem o propósito de apenas tomar conhecimento, por vezes nem isso, de que algo existe, sem necessariamente interiorizar a sua existência. Pelo contrário, olhar necessita de atenção especial, é delicado, é um compromisso, uma responsabilidade, quase uma contemplação; o olhar é algo muito mais profundo e humano, caloroso, é perceber, é existir, é conviver, é sentir o outro; vai além da ação biológica de ver; o olhar perscruta pode até perturbar, angustiar, instigar, prender

hei de te amar

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já não estou a sós contigo já não sei dos teus erros apenas dos meus senti-me capaz de caminhar só do erro fui inventor e hoje é dura a cor   a sombra de ti que paira em mim até hoje só menti na minha incapacidade orgulhosa de admitir que errei ah pudesse parar a vida   dar um   dois   três   mil passos atrás e desses passos-erros renascer qual fénix dourada   para ti dentro de mim algo diz que há muito mais amor para dar sei que perdi e não tentarei esquecer e para ser feliz    se quiser imaginarei que sou a terra e a água das flores que crescem no teu jardim inventarei o teu sorriso criarei o teu paraíso hei de sempre chorar por ti mas quero ver-te sempre sorrir oh minha formosa sabedoria hei de amar nuno campos monteiro 08.VII.2015

não tenho tempo

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a neimar de barros na esperança que Deus lhe tenha dado todo o tempo por vezes          também eu não tenho tempo para b rincar contigo por vezes         também eu não tenho tempo para te abraçar para rir contigo         para crescer            ou simplesmente estar  são tantos aqueles que me chamam a brincar         a abraçar          a rir          a estar que parece que tudo isso é mais importante do que tu e que têm de acontecer antes de ontem         caso contrário         o meu mundo         aquele que eu criei para me sentir eu         para me sentir importante         acaba         quando na verdade         sou eu quem o põe em risco de colapsar porque “não tenho tempo” eu não quero o silêncio         não quero o sossego          mas preciso deles para não ruir com o mundo que eu criei         preciso de tempo                  e sabes o que é mais curiosos         irónico até também o tempo precisa de tempo                                          

eu confesso

gosto de abraçar os outros     é tão bom          é difícil de explicar      é como se   por momentos     pudesse e estivesse abraçando o mundo gosto de fazer os outros rir gosto da ideia que      nem que seja por breves momentos quando os outros riem    dá-se a cura de todos os males isso é talvez a coisa mais importante para uma pessoa também gosto que me façam rir     gargalhar até doer a barriga e acelerar a respiração    gargalhar aproxima-te de quem te provoca o riso e quando sou abraçado sem pedir      há quem saiba abraçar quando eu preciso sem pedir      é bom      faz-me sentir desejado principalmente quando o abraço é demorado por um longo tempo nuno campos monteiro 06.VII.2015