Não (sei se) são poemas
Alain Oulman foi talvez o melhor compositor que Amália Rodrigues teve. Um homem magro, de estatura franzina e muito aprumadinho: "um menino de coro", assim lhe chamava Amália. Foi este “menino de coro” que alargou horizontes melódicos e poéticos à fadista. Fascinado pela voz de Amália, conta-se que ele terá percorrido quilómetros para a encontrar e entregar-lhe uma das suas composições; diz-se ainda que veio a encontra-la num acampamento na Ericeira. “Que quer de mim?” – perguntou-lhe a fadista. “Que cante a minha música.” “São fados?” “Não sei se são fados, mas a minha música tem a dor do fado, aquela pena; a minha música tem, como a sua voz, um choro, um choro no cantar.” Alain cantou o tema “Vagamundo”. No fim daquele encontro, Amália respondeu “Estive toda a minha vida à sua espera, Alain!” Assim são os teus textos: não sei se são poemas mas têm a mesma suavidade, o mesmo sabor, a mesma melodia escondida atrás de cada palavra. Nuno Campo Monteiro Espo