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A mostrar mensagens de 2016

dirás sorrindo

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"Doze girassóis numa jarra" Van Gogh, 1888 não sabes então não digas nada guarda silêncio e sorri um dia saberás exatamente o que dizer e dirás sorrindo sorri sempre e sonha bonito basiorum nuno campos monteiro 31.XII.2016
"pronto amanhã vamos ter outro poema" a noite é de facto propícia para escrever mas escrever o quê  se já foi tudo dito agora é tempo de silêncio do olhar que fala como palavras que seduz tal como as palavras do sorriso esse desenho traçado numa boca de doçura o tempo de espera de contemplação para escrever um outro poema nuno campos monteiro 23.XII.2016

tocaste-me por dentro

tocaste-me por dentro bastou o brilho do teu olhar depois o sorriso esse ar de menina chegaram os gestos as palavras     os abraços e depois quase sem aviso o beijo aconteceu num infinito segundo a minha voz fez-se rouca e emudeceu ficaram gestos suspensos os desejos tornaram-se imensos e teceram melodias poemas pela líria e pela cítara desenhos senti a vida pulsar   no coração quando a tua suave carícia tocou a minha mão na tua boca quis parar o tempo unir-me a ti e eternizar instante pudesse eu regressar a esse passado a esse instante e torná-lo-ia perfeito num sonho de amor para ti nuno campos monteiro 19.XII.2016

as palavras...

não sei se é talento mas paixão e palavras palavras que tal como as pessoas não deixam de me seduzir as palavras esta articulação de fonemas e letras esta manifestação verbal ou escrita que expressa ideias sentimentos e emoções nuno campos monteiro 15.XII.2016

logo chegas a casa e escreves um poema

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"O Beijo" de Pablo Picasso (1969) … logo chegas a casa e escreves um poema dizia-me alguém brincando com esta minha teimosia de escrever palavras mas ninguém ideava que o poema hoje não seria grafado em papel mas perpetuará por certo na boca que o sentiu e as palavras que não me param de seduzir e o teu olhar que não para de me inquietar e o teu sorriso que continua a fazer-me sorrir cheguei a casa e recordei o poema que escrevi nuno campos monteiro 13.XII.2016

um miúdo de vinte e oito anos

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Criança brincando com um camião - Pablo Picasso sim  tens toda a razão pareço um miúdo e daí sou um miúdo moro na rua sésamo e brinco ao pião à macaca e ao berlinde ando a saltitar pela rua a cantarolar e a assobiar cantigas o sol espreguiça-se todos as manhãs e os seus raios entram pela minha janela é a sua maneira de sorrir para mim e de me desejar um bom dia os jardins são todos bonitos com muitas flores de mil cores e árvores de fruto os pássaros chilreiam todo o dia compondo a mais bela melodia o rio contorna a rua dá energia e deleite a quem passa alimenta as lindas fontes com a sua água cristalina na minha ruela não há birras e todas as pessoas são felizes porque não precisamos da guerra para alcançar a paz sim tens toda a razão sou um miúdo de vinte e oito anos e daí sou feliz nuno campos monteiro 07.XII.2016

emergir afogado em ti

como é bom estar a teu lado sentir o aroma que envolve o ambiente o calor que provém de ti contagiar-me com o teu sorriso deleitar-me com as tuas histórias alimentar-me com o maná dos teus lábios percorrer caminhos inócuos traçados pelos teus dedos mergulhar por fim no teu doce e meigo olhar para depois emergir afogado no amor que sinto por ti nuno campos monteiro 29.XI.2016

e sei-te de cor

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"La Musa" de Pablo Picasso sentado antenasal contigo observo-te tento adivinhar num sorriso num gesto num olhar quem és não me importa o quem foste quem desejavas ser mas quem és hoje sim é verdade que és o teu passado mas o que te define é o que no presente traças ser no futuro - é isso que me importa é isso que admiro em ti olho-te sorrio-te adivinho-te e sei-te de cor - no latim de corde [trazer] no coração - nuno campos monteiro 25.XI.2016

um pouco de menina e de mulher

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"Mulher Sentada", Pablo Picasso sim  tenho um sentimento tão forte que não cabe em mim por isso o tomei e guardei numa caixa muito bonita com o teu nome escrito com letras em alto-relevo talvez um dia volte a abrir a caixa e retome esse sentimento tão forte tão puro    e tão meu talvez um dia eu tenha coragem de     pegando e abrindo a caixa procurar-te e te dedicar todo o sentimento por ora fica o doce engano de te ter junto a mim quando     em sobressalto     acordo contigo nos meus olhos e a tua imagem se dissipa e esvanece no sono acordado sigo caminho nesta estranha sensação de abandono e se o teu nome me assombra eu     que prendo a tua essência olharei para o mesmo céu que te olha e contemplarei a tua imagem desenhada nas estrelas sabendo que levas um pouco de mim que deixas um pouco de menina e levas um pouco mais de mulher nuno campos monteiro 24.XI.2016

como tu pedra pequena

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Pedra do Mar da Galileia      olho para esta pequena pedra e sinto que     tal como neruda     puedo escribir los versos más tristes esta noche que a noite está estrelada fria que o vento baila e canta com o breu     a lua     as estrelas falar do medo que voltou e da saudade que não me deixa dos beijos caídos num cemitério de palavras e de bocas mordidas corpos secos braços abertos olho para ti e desejo ser como tu pedra pequena pedra de negra plena de luz pedra ligeira     humilde que em dias de tormento unes-te à terra e rodopias sob rodas e cascos e pés calcada por toda a gente ah     como desejo ser como tu pedra pequena     que não serves para ser palácio    nem igreja como tu     pedra pequena que não serves para nada nem para pedra apenas uma pedra nuno campos monteiro 09.XI.2016

não "é assim"

saudade li que a saudade é como o amor nunca pára de crescer se quem amamos faz parte de nós digo com toda a certeza que amo poucas pessoas talvez agora nem ame ninguém mas as que amo amo-as com uma força que nem o tempo     nem a distância nem mesmo a morte nos conseguem afastar porque é impossível eu afastar-me de mim quando tu morreste ou melhor     quando deixaste de morrer senti que levavas contigo parte de mim que também eu deixara de morrer e me tornara num espírito perdido não afastei de todo essa ideia anseio por te encontrar passear contigo de mão dada pela foz deitar-me junto a ti     conversar até adormecermos  de mãos entrelaçadas ou simplesmente ver-me nos teus olhos azuis acariciar os teus cabelos brancos ver-te sorrir vaidosa quando te chamar boneca ouvir-te gargalhar com as minhas "pantominices" escutar com atenção as tuas narrativas do fantástico cantar contigo as cantigas populares de antigamente

só sentimos ciúmes pelo objecto amado

só sentimos ciúmes pelo  objecto  amado dizia eu há dias não era minha intenção falar de sentimentos nem fazer teses e enunciados plenos de profundidade nem sentimentalismos não era minha intenção esbanjar charme brincava com as palavras entre amigos numa pausa para o café mas hoje depois dos meus olhos perscrutarem nos teus na forçosa despedida senti ciúmes desde esse momento tenho fatigado o meu pensamento (ou ele a mim) hoje sei que tenho um  objecto  amado que não é objecto é pessoa por isso torna-se imperioso dizer só sentimos ciúmes pelo  sujeito  amado nuno campos monteiro 09.X.2016

pintura poesia e amor

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O Mestre Pablo Picasso dizia que facilmente um bom quadro, quando junto de quadros maus, torna-se num mau quadro porque se confunde como tal. Dizia também que um mau quadro, junto de bons, tem o privilégio de se tornar num bom quadro. O mesmo acontece – parece-me – com a poesia e o amor. Por isso é importante brio, sensibilidade estética, fazer uma análise cuidada quando estamos diante de uma pintura-poema-amor. Não vá dar-se o caso de considerarmos bom o que não tem tanta qualidade e de o levarmos para a casa… Não achas que já vem sendo tempo de olhar para as pinturas que foste guardando? Talvez seja tempo de escreves um outro poema, não te parece? Beijo-te Nuno 07.X.2016 "As Flores da Paz", Pablo Picasso (1958)

sufoco e galopar de emoções

como gostava ser dono de mim controlar      sufocar este sentimento mas sempre que protesto e     estupidamente     digo não     basta e nego-te sempre que insisto que este amor-a-fingir não se tornará uma verdade num sufoco grito o teu nome e     desesperadamente quero arrancar-te do peito olho a tua imagem bem nítida na minha mente a mentira passou a verdade os defeitos são pequenos e o desejo de galopar em emoções e chegar a ti queima-me por dentro nuno campos monteiro 03.X.2016

in recordações de ti iii

(…) Sim… claro que me lembro dessa soirée privée – muito século XIX – em honra da plus belle cantatrice française que conheci. Era a primeira noite de Junho. A festa estava primorosa, o jantar tinha sido soberbo e o baile era, agora, um acontecimento très élégant et animé . A casa e o jardim que a envolvia eram um encanto, « une parfaite récréation de le chalet et le jardin de la Comtesse d’Edla …» (a segunda esposa do Rei D. Fernando II, Elise Friederike Hensler, uma apaixonada pelas artes – cantora, actriz, escultora, pintora, ceramista, arquitecta e floricultora – e por isso quase esquecida no panorama nacional português!) «… avec quelques touches de la Quinta da Regaleira» como repetia, constantemente a anfitriã. Falávamos, se bem se lembra, da romântica história, à varanda do chalet , com la belle cantatrice française , n’est-ce pas? Ah!... Nas noites mais quentes de Verão, ainda consigo sentir a doce fragrância emanada do jardim… a harmonia da orque

não

não não insistas        não te posso contar seria inconveniente não me obrigues a ser inconveniente contigo não hoje     não agora     não amanhã há coisa que     simplesmente     não te posso contar     segredos que devem permanecer nesse país encantado do mistério     revelá-los seria estragar a magia     o encanto     o mistério talvez a esperança não     não     não devemos tocar em certos assuntos melhor deixá-los lá     numa gaveta secreta qual folha de papel de diário qual fotografia à la minuta já enegrecida pela memória de um tempo que já não volta não     não     e não recuso-me          simplesmente     recuso-me a estragar o nosso fado     a mais bela história de amor    " ma plus belle histoire d'Amour... c'est vous  "     comment   chante  la  célèbre  cantatrice f rançaise   com revelações pseudosecretas e pseudointelectuais que solitariamente resguardei do mundo que não as sabe compreender tampouco estimar

outra canção de embalar *

dorme     dorme     meu pequenino bons sonhos para ti vão o vento     o sol e a águia são três amas que te dou de coração a águia     atenta e protectora     voa alto para que não te assuste com  o seu piar e o sol esconde-se debaixo das ondas para que a sua luz não perturbe o teu sonhar o vento      após três noites sem dormir precipita-se para a casa da sua mãe que o espera para lhe perguntar        "para onde foste     onde estiveste lutaste com as estrelas ou afugentaste as ondas do mar" "não     mãezinha     não eu não afugentei as ondas do mar nem as estrelas douradas sussurrei  a um menino a  mais bonita canção" dorme     dorme     meu pequenino bons sonhos para ti vão tio nuno 14.VII.2016 * inspirado num poema de Maikov

uma canção de embalar

a ti que vieste ao mundo para trazer a alegria a quantos te amam nasceste como desejei este dia como desejo    agora mesmo como se fosses meu pegar-te ao colo    acariciar-te com passos para cá e para lá entoar uma modinha e embalar-te desejo que cresças qual rebento regado com felicidade cuidado com carinho e amor iluminado pelo olhar doce da tua mãe     pela força e valentia do teu pai alimentado de brincadeiras com o teu irmão desejo que cresças num mundo sem lutas     sem pessimismos nem medos      estradas    becos     ou abismos que te levem a lugar nenhum desejo que cresças num mundo feito de poesia de sonhos     danças e canções onde fadas e heróis se possam libertar sair dos livros de histórias de encantar e forrar a tua casa para que existas no teu quente contentamento correndo     brincando    sorrindo que possas ir na vida serenamente como os rios correm   ou como os veleiros voam mesmo que o mundo gire ao contrário   ou a

in recordações de ti ii

(...) e, deixando no tampo da mesa uma gerbera, prometeram não olhar para trás, sorrir sempre e apenas 'no silêncio dos sentidos ouvir os segredos de mil e uma noites de verão'.  Olharam-se uma última vez, querendo perpetuar aquele instante, e sorriram. Hoje são memórias gravadas no tempo, silêncios ou palavras não ditas, gestos ou afectos por se concretizas, sorrisos esboçados na ilusão dos verdes anos. in 'recordações de ti' Nuno Campos Monteiro 04.VII.2016

Ao meu caríssimo professor e amigo João

Foi há 18 anos que as nossas vidas se cruzaram, era eu um franzino miúdo de 10 anos e tu o meu Professor de Português. Recordo-me desse primeiro dia de aulas, como se tivesse sido ontem. Segunda-feira, pelas oito e meia da manhã, tu, com o teu ar sério, mas ternurento, apresentavas-te com a tua emblemática saudação “Caríssimos, bem-vindos ao 5º ano. Chamo-me João Gomes e serei o vosso Professor de Língua Portuguesa; alguém que está aqui para ensinar e aprender convosco. Mas para isso teremos de trabalhar em conjunto.” Apresentaste-nos depois um contracto, que o lemos todos em voz alta e depois assinámos. Nele fica o compromisso de trabalharmos mutuamente para alcançarmos os melhores resultados possíveis. Este trabalho mútuo fez parte do meu crescimento intelectual e pessoal, pois tu, o meu Professor, viste-me passar da infância para a adolescência; da adolescência para a idade adulta. Mais tarde, ex-aluno e ex-professor, continuámos a cumprir aquele acordo, renovado constantemente

É o meu Professor!

Ao meu Professor e amigo João Gomes Acorda cedo,   sai às pressas, enfrenta o trânsito, para chegar à hora certa: É o meu Professor! Dedica-se com amor à profissão que abraçou, exemplo de integridade   para os seus alunos a quem dedica horas da sua vida pois acredita que na sua frente está parte do futuro e a sua missão é ensinar: É o meu Professor! Vésperas de exame, o coração aperta e tudo o que nos ensinou   parece ser uma mancha branca, ele tem a palavra certa: É o meu Professor! Aqui fica o meu muito obrigado por tudo o que foi e me ensinou ao meu querido, e para sempre amigo,   João, porque foste, és e serás sempre O meu Professor! “ Requiescat in pace ” Nuno 30.VI.2016

a liturgia do amor

o que será mais fácil de dizer estou cansado     já nada é igual     somos mais do mesmo ou não desistamos de nós     vamos conversar juntos descobriremos onde erramos e a solução para recomeçar afinal um amor como o vosso não pode acabar assim disse-lhes o jovem com quem há instantes iniciaram uma conversa     que tinha tudo para ser de mera circunstância o vosso amor        continuou o rapaz pode ter uma vírgula antes ou depois de exclamações e interrogações mas não permitam um ponto final eles entreolharam-se     calados     serenamente      escondendo a agitação interior mexeram o café com a mesma agitação como se envolvessem     quisessem adoçar a própria vida. por fim sorriram um para o outro recordaram os anos de vida em conjunto reencontraram-se     redescobriram-se apaixonaram-se e     abraçados caminharam em direcção ao infinito esse lugar mágico onde tudo é possível onde só se chega quando bem acompanhad

lençóis de silêncios rasgados

deito-me em lençóis de silêncios rasgados bebo a ilusão que criei dos teus beijos demorados adormeces a meu lado tão cansada sonho momentos de ternura poemas que te escrevo de madrugada o meu sonho é já felicidade teu corpo     o meu mundo a noite inteira de liberdade gritos      desejos de prazer com que uno o amor que por ti fiz nascer a teu lado deito-me em segredo nesta noite-manhã de solidão não é desgosto     meu amor     nem é degredo é a sombra desta nossa paixão dou vida por te amar não há forma de acalentar meu coração tenho medo     meu amor     de acordar e meus olhos reverem a ilusão fico sem a tua doce melodia fica a sombra do pássaro belo que és nesta cama     desfaço-me como em terra fria não te prendas     meu amor     sê como és nuno campos monteiro 07.III.2016 pintura de claude monet 1872

Pierre e Hunila

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No início do século XIX, Pierre Duchemin, um jovem marujo francês acusado de “rebeldia de porão” fora, durante uma caça à tartaruga numa ilha deserta no meio do Atlântico, condenado a o abandonado. Imóvel e incrédulo, Pierre não grita, apenas deixa que uma lágrima flua e desenhe um curso natural pelo seu rosto enquanto os seus companheiros o deixam naquele ilhéu perdido no Atlântico. Do outro lado da ilha, Hunila, uma portuguesa solitária desde a morte de Filipe, seu marido e de Jacinto, seu irmão, vítimas de naufrágio, sobrevive com os parcos recursos da pesca e com as lembranças do seu país, dos anos vividos no seio da sua família. Ao cabo de tantos anos de solidão e silêncio interior, o irónico e cruel destino envia-lhe Pierre que, durante um acto de revolta e desespero corre o ilhéu, encontra Hunila sentada num rochedo a olhar o mar que para sempre lhe mudou vida. «Bonjour!» diz Pierre. «Mademoiselle comprend que je dis?», insiste perante o silêncio de Hunila. «Ne pa

aprendi a gostar de ti

aprendi a gostar de ti como quem  aprende a gostar de poesia não se aprende     não se ensina sentimos que ela nos contagia aprendia a gostar de ti como quem aprende a gostar de flores sente-se-lhes o cheiro contemplamos as suas cores aprendi a gostar de ti como não te sei explicar foi a harmonia dos teus gestos o sorriso     a doçura do teu olhar nuno campos monteiro 07.II.2016

toada de sentimento

chamaste-me poeta e sem razão a poesia que escrevo escreves-ma tu no coração teu nome preenche-me o peito minha musa     ó inspiração embora seja eu o  teu enjeito serás sempre tu a minha pretensão que eu sou poeta     dizes com certeza ignorando o fundamento sendo tu a mais bela pureza és tu     musa     o meu encanto és tu quem eu canto numa toada de sentimento nuno campos monteiro 1.II.2016

estranha forma de ser eu

vieste do fim do mundo para me despertar do sono mais profundo e que era só meu podia não ter mundo talvez fosse um vagabundo mas era eu vieste despertar o que em mim já dormia nada te quis revelar do que era meu vieste-me recordar histórias de encantar e deixei de ser eu nada tenho a condenar neste entardecer foi bom recordar o que foi meu e agora voltar e na realidade aceitar esta estranha forma de ser eu nuno campos monteiro 20.I.2016

por ti

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Pintura de Leonid Afremov, “Joyful Tango” por ti tornar-me-ia um atalho uma vereda     uma margem de caminho uma subida íngreme uma rota agreste a florir ao sol dourado por ti só por ti tornar-me-ia uma estrela uma bonita esfera armilar plácida e brilhante e só a tua vida iluminaria por ti tornar-me-ia aragem um sopro leve um vento quente e suave uma brisa para te acalmar e envolver um volátil beijo e um subtil desejo por ti dos meus sonhos far-me-ia poeta lira ou cítara salmo ou serenata uma serena prece ou ladainha um verdadeiro romance por ti tornei-me espera fiz-me dança por ti tornei-me um doble corte fiz-me amor nuno campos monteiro 16.I.2016

O inesperado tem mais sabor

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À Musa de 2016  Adivinhava-se mais uma noite triste, solitária e vazia. Mas o destino tem destas coisas, tem o condão de reservar surpresas... como um jantar, uma ida ao teatro, uma visita nocturna ao ponto mais alto da cidade, um cappuccino ou um crêpe de nutella e amêndoas laminadas. Foi este final que o destino lhes reservou para hoje. E ele sorri, percebendo esta realidade, enquanto partilha um crêpe de nutella com amêndoas laminadas. Involuntariamente, nasce um sincero sorriso de plena realização no rosto dele ao recordar esta inesperada, mas agradável, noite que o destino lhe reservara; ao repetir as gargalhadas soltas, as conversas despreocupadas, os olhares-enigmas que lança com volúpia... a sensação, há muito adormecida, de uma nova paixão a florir no seu jardim... " Não entendo porque não tens ninguém ao teu lado ." Timidamente, ele responde: " Porque não tenho jeito para as pessoas. Gosto muito delas, embora tente fazer acreditar que não... talve

neo-qualquer-coisa-ismo (fora de época)

e enquanto pinto a borda da chávena com café penso o quanto estúpido me tornei onde andas criança inocente em que parte do meu corpo te escondes terás desaparecido na totalidade e com esta chuva idiota de estupidez ressalta-me o meu profundo incómodo sinto-me só     no entanto o café está repleto de gente é só mais uma constatação de como não precisamos estar isolados para estarmos sós logo     estas linhas não serão outra coisa que um solilóquio sinto-me só e completamente desconectado com o mundo sinto-me completamente deslocado como uma escultura     criada com um propósito mas que se foi adiando a exposição e     quando finalmente se decidiu expor estava fora de época e transformara-se numa espécie de niilismo ou numa tentativa apressada de neo-qualquer-coisa-ismo ao pintar com café     penso que o meu criador me manteve guardado mais tempo do que desejou preocupado que estava com as terríveis crises e discórdias que os homens     estupida