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Insultare

insultare  do latim saltar para cima Ao mestre sevandija de moral.      Advirto, em jeito de intróito, que o texto que se segue contém linguagem verrinosa. É certo que poucos a entenderão, contudo, é uma linguagem que procura o vitupério erudito.      A boa gente que me conhece – e mesmo aquela que, conhecendo-me, ainda não atingiu a divina gratia – já sofreu, ou presenciou, a tortura provocada pelo meu "pedantismo gramatical", uma forma de TOC, que os mais recentes investigadores preferem designar POC, transformando o transtorno em perturbação obsessiva-compulsiva, contudo, ainda pouco estudada. Esta obsessão-compulsiva resulta na necessidade do individuo transtornado/perturbado corrigir qualquer erro gramatical que encontra, desde o mais crasso e frôndeo ao mais leve e inofensivo.      A minha verdade exigi que eu admita que este meu "pedantismo gramatical", em auto ou mesmo em hétero correcção, muitas vezes se vira contra mim, um “pedante” e metrossexual da

Nunca um adeus... sempre um até já.

Nunca um adeus... Hoje acordei com uma notícia daquelas que ninguém quer acordar: partiu uma das pessoas mais queridas e generosas que eu conheci, de uma sensibilidade e genuíno humor. Pensar que não mais vou ter a sua recepção sorridente e calorosa; pensar que não mais lhe vou ouvir palavras de alento, outras tantas alegres; pensar que não mais lhe vou ouvir divertidas estórias e histórias, é como um manto enegrecido de sombra que me cobre por inteiro. Como será estranho e difícil, muito difícil, cruzar os mesmos espaços sem a sua presença corpórea. Conforta-me saber que este tão querido amigo apenas continua o caminho que todos percorremos, e que Deus o chamou mais cedo - porque Deus chama para Si os que mais ama - e que um dia nos voltaremos a encontrar na eternidade. Requiescat in pace, Fernando Perpétuo . Nunca um adeus... sempre um até já.

do infante

dos projectos do infante nasceu um Império da sua vontade uma época de glória nacional de Belém desenhou-se um mundo novo criou-se a civilização transoceânica renovou-se Portugal Deus sagrou-o e fê-lo português para que a orla branca surgisse   redonda       do profundo azul e desse de nós o sinal   para que se cumprisse o destino o mar       a terra       o Imp é rio Senhor       falta cumprir-se Portugal

"O tempo das suásticas"

Sob a frase-mote da autoria de Zalmen Gradowski, "Porque sabemos, temos uma escura premonição", sublinha-se hoje o 75.° aniversário da libertação dos prisioneiros do maior campo de concentração e extermínio erigido pelo regime nazi, Auschwitz, e que, não por acaso, coincide com a celebração anual do Dia da Memória do Holocausto. Porquê recordar hoje - eu que não vivi, não senti directa ou indirectamente o flagelo da Segunda Guerra, tampouco conheço sobreviventes ou seus descendente - "o tempo das suásticas" (Primo Levi, 1960)? Porque é um dever de todos!  Num texto publicado em 1960 por Primo Levi a propósito da Exposição da Deportação, se refere ao período nazi, cujo título mencionei, o autor alerta para "o silêncio do mundo civilizado", para o nosso próprio silêncio vergonhoso, pois "somos homens pertencemos à mesma família humana a que pertencem os carrascos. Diante da enormidade da culpa deles, sentimo-nos, nós também, cidadão de Sodoma

II. [repetita in formulae thesis]

II Nonnus hominibus S. D. O dia 2 de janeiro devia ser considerado de “simples gala”. É que ainda não estamos devidamente propensos a olvidar os dias de festas e envergar o traje do trabalho. E por falar em trabalho… No meio de tantos auto e hétero vexames pelo fracasso repetido  in formulae thesis , lá me veio um agrado salvar o dia. Verdade que conversar, mesmo que seja para desbaratar palavras repetidas e sentimentos iníquos (mas também inócuos), faz bem; purga-se um certo rancor barato. Vejamos o que me espera o dia 3.    Scripsit in Portuensis Orbi data a.d. IV Non. Ian.  MMXX

I. [fora o velho, entra o novo]

I Nonnus hominibus S. D. Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos. (Luís Vaz de Camões [?]) “Fora o velho, entra o novo!”, ressoam como címbalos estridentes os ecos da minha infância. Gritamos todos em uníssono gáudio a contagem decrescente. Batem-se testos na rua e dentro de casa, estalam rolhas do melhor  champagne  e tilintam os copos saudando o Ano Novo. Somo imersos numa grande alegria! Creio ver o teu sorriso de radiante, o teu olhar brilhante, feliz por mais um ano. Mas não. O que vejo é “o teu olhar derradeiro, / esse olhar que era só teu, / amor que foste o primeiro”. Mas como de repente, a casa está vazia e eu volto à realidade da tua ausência. Chegou 2020 e eu não estou, como outrora, na nossa casa a festejar. Não és tu quem recebe o meu primeiro beijo, o meu primeiro abraço e te diz “mais um que já passou!” Confesso que não estou totalmente triste. Este ano entrou, não tão barulhento, mas igualmente familiar e feliz em casa da Ariana. E foi tão

Prooemĭum

Prooem ĭ um Hoje inicia mais um ano. Com ele, por toda a parte, se multiplicam e renovam votos de um próspero recomeço. A esperança de que todos os sonhos e compromissos sejam, por fim, concretizados. Frases como “vamos fazer deste ano o melhor das nossas vidas, pois apenas depende de nós e a vida é o conjunto das nossas escolhas” repetem-se como máximas que se não evocadas agoiram, condicionando a vida de qualquer mortal. Na verdade, em cada novo ano, queremos somente o resultado das promessas e desejos, mas rejeitamos o processo de realização e, consequentemente, a nossa responsabilidade no   incumprimento das mesmas, certamente, por falta de compromisso. Não sei ainda o que pretendo para este ano; talvez, por falta de uma certa ambição, apenas “que a vida me corra”, como dizem os populares. Contudo propus-me a seguir os exemplos de José e de Maria, o casal dos sonhos e do silêncio (cf. Mt 1, 24; Lc 2, 50). E é no silêncio, para que as minhas palavras não sejam acúfenos e desprovidas